quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Obama, os judeus e Israel


Horas depois de ter assegurado a nomeação do Partido Democrata para a Presidência dos Estados Unidos, o senador Barack Obama discursou, em Washington D.C., perante a conferência anual do American Israel Public Affairs Committee.
Segue o discurso:
Apercebi-me da história de Israel pela primeira vez quando tinha 11 anos. Aprendi acerca da longa jornada e da constante determinação do povo judeu em preservar a sua identidade através da fé, da família e da cultura. Ano após ano, século após século, os judeus preservaram as suas tradições, e o seu sonho de uma pátria, perante impossíveis contrariedades.A história impressionou-me de forma profunda e poderosa. Eu crescera sem noção de raízes. O meu pai era negro, natural do Quénia, e deixou-nos quando eu tinha dois anos. A minha mãe era branca, nascera no Kansas, e eu mudei-me com ela para a Indonésia e depois para o Havaí. Durante muitos anos, eu não sabia de onde vinha. Por isso era atraia-me a ideia de que se podia sustentar uma identidade espiritual, emocional e cultural. E compreendi profundamente o ideal sionista de que há sempre uma pátria no centro da nossa história.Aprendi também acerca dos horrores do Holocausto e da terrível urgência que trouxe à jornada de retorno à pátria de Israel. Durante a maior parte da minha infância vivi com os meus avós. O meu avô combateu na Segunda Guerra Mundial, tal como o meu tio-avô. Ele era um rapaz do Kansas, que provavelmente nunca esperara ver a Europa — quanto mais os horrores que lá o esperavam. E durante meses depois de ter vindo da Alemanha, ele permaneceu em estado de coque, sozinho com as dolorosas memórias que não o abandonavam.É que o meu avô pertencia à 89ª Divisão de Infantaria — os primeiros soldados americanos a chegarem a um campo de concentração nazi. Eles libertaram Ohrdruf, parte do campo de concentração de Buchenwald num dia de Abril de 1945. Os horrores desse campo vão muito além da nossa capacidade para os imaginar. Dezenas de milhares morreram de fome, tortura, doença, ou simplesmente assassinados — parte da máquina de morte nazi que matou seis milhões de pessoas.Quando os americanos ali entraram, descobriram pilhas de cadáveres e sobreviventes famintos. O general Eisenhower ordenou que os alemães residentes nas terras vizinhas visitassem o campo, para que podessem ver o que tinha sido perpetrado em seu nome. Ordenou que os soldados americanos visitassem os campos, para poderem aperceber-se porque combatiam. Convidou congressistas e jornalistas para testemunharem. Ordenou que se tirassem fotografias e se filmasse. Explicando as suas acções, Eisenhower disse que queria produzir “testemunhos em primeira mão para evitar que no futuro haja alguma tendência para se dizer que isto tudo não passa de propaganda.”Vi algumas destas imagens no Yad Vashem, e elas nunca nos deixam. E essas imagens apenas aludem levemente às histórias que os sobreviventes do shoa carregam consigo. Tal como Eisenhower, cada um de nós testemunha a tudo e todos que quiserem negar estes crimes sem nome, ou que fale em os repetir. Temos de querer dizer o que dizemos quando afirmamos: ‘nunca mais’.Foi apenas alguns anos depois da libertação destes campos que David Ben-Gurion declarou a fundação do Estado Judaico de Israel. Sabemos que o estabelecimento de Israel foi justo e necessário, enraizado em séculos de luta e décadas de paciente labor. Mas 60 anos depois, sabemos que não podemos baixar os braços, não podemos capitular, e enquanto Presidente nunca irei ceder quando se tratar da segurança de Israel.Tal como qualquer israelita nos dirá, Israel não é um país perfeito mas, tal como os Estados Unidos, dá um exemplo a todos quando busca um futuro mais perfeito.Porque há um empenho incrustado na fé e tradição judaicas: no sentido da liberdade e da lealdade; no sentido da justiça social e da igualdade de oportunidades. No sentido de tikkun olam — a obrigação de reparar o mundo.Nunca esquecerei que não estaria aqui hoje se não fosse esse empenho. Nos grandes movimentos sociais da história do nosso país judeus e afro-americanos estiveram sempre ombro com ombro. Juntos apanharam autocarros rumo ao Sul. Marcharam juntos. Sangraram juntos. Judeus americanos como Andrew Goodman e Michael Schwerner estiveram dispostos a morrer ao lado de um homem negro — James Chaney — em nome da liberdade e da igualdade.Vocês e eu sabemos que temos de fazer mais do que simplesmente ficar quietos. Agora é tempo de ficar vigilante e encarar todos os adversários, à medida que avançamos na busca de um futuro de paz para Israel e para todos. Agora é tempo de apoiar Israel neste novo capítulo da sua extraordinária jornada. Agora é tempo de nos juntarmos na tarefa de reparar o mundo.

Nenhum comentário: